Festival ‘Atlantis Concert for Earth’ nas Sete Cidades é uma “irresponsabilidade”

Escrito por em 07/07/2022

O BE/Açores considerou hoje que a autorização do Governo Regional para a realização do festival “Atlantis Concert for Earth”, nas Sete Cidades, na ilha de São Miguel, é uma “irresponsabilidade”, apontando “lacunas graves” no estudo ambiental.

Numa nota de imprensa divulgada na sequência de uma resposta do Governo dos Açores a um requerimento, o Bloco refere que, “embora seja dito que o recinto não poderá ocupar o domínio público hídrico, ou seja, a faixa de 30 metros da lagoa em relação à linha de água, a delimitação enviada pelo Governo Regional em ficheiro de imagem ocupa claramente essa área, o que não se compreende e indicia que essa condicionante não será cumprida”.

A lagoa das Sete Cidades vai acolher o “Concert for Earth”, em 22 e 23 de julho, com The Black Eyed Peas, Stone Temple Pilots e Pitbull, entre outros, para “celebrar o planeta de forma positiva”, numa iniciativa da produtora Atlantis Entertainment, liderada pelo músico Nuno Bettencourt.

Na nota, o BE/Açores alerta que, no âmbito do estudo ambiental, “não se identifica muitas das espécies presentes no local do evento e no ‘habitat’ da lagoa, nomeadamente algumas nidificantes, como a galinha-de-água, o galeirão, o garajau-comum e o mocho”.

“Muitas das subespécies endémicas e espécies identificadas não têm estatuto de conservação conhecido para os Açores, no entanto o estudo refere que o seu estatuto é pouco preocupante, o que é falso”, aponta o BE/Açores.

O estudo “não coloca sequer a hipótese de acontecer a deposição de resíduos na massa de água da lagoa e parte do pressuposto de que todos os resíduos serão colocados em caixotes do lixo, o que, infelizmente, se sabe que não acontece em eventos como estes que juntam muitos milhares de pessoas”, frisa o Bloco.

O BE/Açores salienta ainda que “está em causa um evento que pode receber até 15 mil pessoas numa área ambientalmente sensível”, alertando que “o ‘parecer’ da Universidade dos Açores não indica uma única medida concreta para mitigar o impacto nas espécies existentes no local”.

No comunicado, os bloquistas lamentam que o Governo dos Açores “não tenha enviado ao parlamento as cópias dos pareceres dos departamentos do executivo competentes, apesar de terem sido explicitamente solicitados no requerimento” apresentado pelo partido.

“O facto de se tratar de um festival que diz querer proteger o ambiente, mas que será fortemente perturbador de uma zona protegida é uma enorme contradição. A autorização deste evento nos moldes em que está previsto é mais uma prova de que não se pode confiar o ambiente a este Governo Regional”, conclui o BE/Açores.

O Núcleo Regional dos Açores da IRIS- Associação Nacional do Ambiente também já desafiou o Governo Regional a divulgar os estudos exigidos para a realização do concerto ‘Atlantis Concert For Earth’.

“Relativamente à localização do evento, não percebemos a escolha de uma área protegida, longe dos centros urbanos onde há espaços mais adequados e menos onerosos para a montagem das infraestruturas necessárias para o efeito. A título de exemplo, referimos o Parque Urbano ou o Pinhal da Paz”, salientou a associação.

Outras associações ambientalistas dos Açores também já criticaram a localização do festival musical projetado para as Sete Cidades, tendo o ambientalista Filipe Tavares, da Associação Regional para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde (ARTAC), considerado, em declarações anteriores à agência Lusa, que a “dimensão do evento em causa é bastante relevante naquele contexto e a localização, de facto, não é a mais adequada para o que se pretende fazer”.

Também Rui Coutinho, do núcleo de São Miguel da associação ambientalista Quercus, referiu que “a realização destes eventos é muito bem-vinda, mas no local apropriado, e a cratera das Sete Cidades não é objetivamente este local”.

O músico Luís Bettencourt, que integra a organização do evento, considerou, por seu turno, que estão reunidas as condições necessárias para salvaguardar o ambiente: “Foram muitas horas, muitos dias e meses a estudar, em conjunto com a Direção Regional do Ambiente, a forma mais correta de realizarmos este evento.”

O secretário regional do Ambiente e Alterações Climáticas, também em declarações anteriores à Lusa, referiu que foi exigido ao promotor do evento um conjunto de documentos, “incluindo uma avaliação ambiental e da capacidade de carga, mapas da zonas de estacionamento, um documento a comprovar que o festival é ‘carbon zero’, um levantamento topográfico, um mapa do festival”.


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