Saudades das “coisas simples” e fé no Espírito Santo juntam emigrantes açorianos em festas nos EUA

Escrito por em 28/08/2022

Milhares de emigrantes açorianos em Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, concentraram-se por estes dias em Fall River para as festas do Divino Espírito Santo, com “saudades das coisas simples”, mas sem vontade de regressar.

Enchem as ruas de conversas em português, preservam o sotaque das ilhas, mas é aqui que querem ficar porque foi nos EUA que encontraram “mais oportunidades”.

No sábado, o cortejo etnográfico das Grandes Festas, um desfile de tradições e memórias de mais de duas horas, juntou em Fall River “mais de 100” associações, cerca de mil participantes e 10 mil pessoas a assistir, de acordo com a organização.

Arlete Bispo emigrou há 46 anos, mas só agora, com 64 de idade, assistiu ao desfile das Grandes Festas, fundadas há 36 anos pela comunidade emigrante.

“O meu marido trabalhava ao sábado, nunca tínhamos vindo. Agora está reformado. Saímos de casa às 07:30, para arranjar lugar”, diz, explicando que reside em Plymouth, a cerca de uma hora de caminho de Fall River.

Chegou aos EUA três meses depois de ter casado e “foi a decisão certa”, assegura. “Foi a oportunidade de um futuro melhor. Na altura, todos queriam embarcar”, lembra.

Natural de São Miguel, Dina Melo, de 53 anos, é empregada de limpeza nos EUA, onde está há 23 anos.

“Voltar? Não. Esta é a minha terra. A maior parte são portugueses. Não digo que é melhor, mas foi uma oportunidade. Aqui vive-se melhor”, garante.

Maria Ponte, de 59 anos, está há 32 nos Estados Unidos e trabalha como cozinheira. É de São Miguel, da Ribeira Chã.

Assistiu ao desfile porque gosta “de ver coisas portuguesas” e porque a fé que tem “é no Espírito Santo”. Aos Açores gosta de ir, de visita. “Mas a minha terra é aqui”, afirma.

Luciana Medeiros tem 33 anos e chegou aos EUA há três.

Nos Açores, não trabalhava, atualmente faz trabalhos de limpeza que “pagam bem”, ao passo que o marido, pintor, ganha cerca de 400 dólares por semana, “umas vezes mais, outras menos”.

“Voltar? Deus me livre. Vive-se aqui muito melhor”, refere.

“Mas sempre me bate aquela saudade, do cheiro das flores, da água, das coisas simples”, reconhece.

Para António Maranhão, de 61 anos, “nem pensar” voltar de vez, “só se houver uma guerra”.

Pescador na Terceira, partiu para Fall River há 34 anos, onde atualmente trabalha numa oficina.

Na ilha, “a vida é sempre aquilo: sempre um pouco ou nada”, enquanto nos EUA encontrou “uma vida melhor”. “Aqui tenho tudo: casa, carro, mulher, filhos. É outra vida”, descreve.

Natural de São Miguel, a mulher, Elisabete Chaves, de 44 anos, vivia na ilha de Santa Maria quando, aos 15 anos emigrou para os EUA com os pais.

Nos Açores, “o meio é muito limitado e pequeno” e, em Fall River, encontrou “mais oportunidades para os filhos e mais trabalhos”.

“Já não vivemos tão apertados, tão limitados. Quando vim não gostava de aqui estar, não tinha tanto convívio, mas depois de me acostumar, não troco a América pelas nossas ilhas”, assegura.

Debaixo de sol forte, o casal parou quase junto ao Kennedy Park para ver o desfile.

“São festas portuguesas, a gente tem saudades de certas coisas. Se não vier ninguém ver, isto acaba”, alerta Elisabete.

Esta é a 34.ª edição das Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Nova Inglaterra, que tem como convidado de honra o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro (PSD/CDS-PP/PPM).

Na sexta-feira, o chefe do executivo apresentou a região como “terra de oportunidades” e de “muito futuro”, nomeadamente para novas economias, devido à centralidade que assumiu num planeta globalizado e das apostas no mar ou no espaço.


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